A fome emocional é caracterizada pelo comportamento alimentar atrelado ao estado emocional e, ao contrário da fome fisiológica, não está diretamente relacionada à necessidade de nutrição.
Por ser uma desordem de natureza multifatorial e complexa, a fome emocional pode ser desencadeada por fatores ambientais, psicológicos e/ou genéticos.
Emoções negativas, como tristeza e ansiedade, costumam ser as principais estimuladoras da fome emocional.
Além disso, variantes genéticas podem predispor ao aparecimento desse comportamento. Uma variante do gene FTO, por exemplo, foi relacionada à fome emocional e à consequente predisposição para o desenvolvimento de obesidade.
O gene FTO foi associado à obesidade e vários estudos relataram seu papel como possível fator no desenvolvimento de distúrbios alimentares.
A variante rs9939609 nesse gene está envolvida no equilíbrio energético e nos hábitos alimentares. O alelo rs9939609-A dessa variante está associado a um aumento da atividade cerebral nas áreas que controlam as emoções, através dos impulsos e dos mecanismos de recompensa em resposta à visualização de imagens atrativas de comida.
Portadores do alelo podem apresentar dificuldade para controlar impulsos alimentares e maior predisposição para o desenvolvimento de fome emocional.
Existem hormônios no nosso corpo que atuam como uma verdadeira orquestra regulando nossos níveis de fome e de saciedade. Eles percebem quando nossos órgãos estão digerindo e sinalizam para o nosso cérebro se devemos continuar comendo ou se devemos parar de comer.
A leptina, a colecistoquinina (CCK) e o peptídeo YY são os principais responsáveis por sinalizar a saciedade. Eles avisam ao cérebro que o alimento que chegou foi o suficiente, então podemos parar de comer.
A grelina e o neuropeptídio Y são os hormônios responsáveis pelo “ronco na barriga”, eles sinalizam a fome para o cérebro e seus níveis caem rapidamente após uma refeição. A queda é mais rápida quanto mais calórica for a refeição.
Todo esse processo faz parte da fome fisiológica, que é a fome real! Mas a fome emocional existe e não acontece de acordo com essa orquestra harmônica.
Entenda e não se sabote:
A fome emocional ou fome seletiva é basicamente um intenso e irrefreável desejo de comer algo específico, geralmente algum alimento com alto teor de açúcar e baixo valor nutricional como bolos, fast foods, doces, massas, etc.
Este tipo de “fome” está intimamente relacionado com o mecanismo de recompensa cerebral, relacionado com frustrações, ansiedade, estresse, ócio, preocupação, excesso de trabalho, sedentarismo, tristeza e pressão.
O seu cérebro, nessa situação, condiciona o ato de comer a felicidade e prazer, não a necessidade de sobrevivência.
A fome fisiológica (fome real) trata-se da manifestação de uma necessidade biológica importante do ser humano. É a sensação percebida por nós quando o organismo precisa receber nutrientes e energia de boa qualidade para conseguir funcionar de forma adequada. A fome fisiológica não é seletiva, não há predileção por um alimento específico.
Nesse caso, a fome não está associada aos componentes emocionais de estresse ditos anteriormente. Ela chega aos poucos e a vontade, geralmente, é de ingerir comida “de verdade”.
A fome é uma sensação natural e por isso devemos saber interpretá-la e conhecer o nosso corpo a ponto de diferenciar facilmente a fome fisiológica da fome emocional, afim e evitar a auto sabotagem.
Sugestões:
Quando se possui duas cópias do alelo rs9939609-A, pode apresentar maior predisposição para desenvolver fome emocional em comparação aos indivíduos que não possuem cópias do mesmo. Esse resultado não significa que necessariamente irá desenvolver a condição, já que existem outros fatores genéticos e fatores ambientais envolvidos.
A escolha de uma dieta adequada e a atenção para o controle de gatilhos que possam desencadear a fome emocional são estratégias que podem ajudar a alcançar resultados mais satisfatórios na busca por um peso saudável.
Referências bibliográficas:
CASTELLINI, Giovanni et al. Fat mass and obesity-associated gene (FTO) is associated to eating disorders susceptibility and moderates the expression of psychopathological traits. Plos One, v. 12, n. 3, p.e0173560, 2017.
WIEMERSLAGE, Lyle et al. An obesity-associated risk allele within theFTOgene affects human brain activity for areas important for emotion, impulse control and reward in response to food images. European Journal Of Neuroscience, , v. 43, n. 9, p.1173-1180, 2016.